A cor em transição na lembrança
Carolina Vieira, 2022
Segundo os estudos de Lu Jong, um tipo de Yoga tibetano, a terra é um dos cinco
elementos trabalhados dentro e fora do corpo e tem como qualidade pura a
calma. Associada ao elemento terra, a calma vem na contramão de muito do que
se vive agora e, ao mesmo tempo, ela é tão necessária enquanto lugar de respiro,
pausa e observação. Assim é a obra de Paula Siebra, revelando um gesto
atencioso e um convite a contemplar aquilo que nos cerca.
O tempo presente nos pede isso: respiro, pausa, amorosidade. A pintura de Paula requer atenção e em troca é possível perceber o acolhimento e o cuidado que a contemplação de sua obra provoca. Os elementos contidos nos seus trabalhos muitas vezes trazem, a partir do cotidiano, uma sensação de pertencimento e de intimidade, que é "nada mais que sentir-se em casa", como disse a própria artista em uma troca de correspondências. Qual lembrança faz você se sentir em casa? Que lugar seria esse?
Com o olhar atento ao seu entorno, Siebra chegou às garrafinhas de areia. Estes objetos, enquanto artesania, tornaram-se algo habitual: talvez pela produção em massa e comercialização turística, a técnica da arenogravura, silicogravura ou ciclogravura tornou-se algo tão comum. Um trabalho que demanda paciência e imaginação não é um simples objeto trivial da cultura do litoral cearense — um souvenir, um chaveirinho, uma lembrança do Ceará.
Há algo nesse objeto que chama a atenção de Paula: a construção da paisagem, a relação com as cores de seus pintores preferidos, a composição enquanto possibilidade de imagem figurativa ou abstrata. A artista percebeu a riqueza da criação no trabalho de composição das imagens com areia colorida em garrafas de vidro — um trabalho delicado, sensível e precioso. Além disso, ao aprofundar sua pesquisa, ainda se deparou com o fato de que, no Ceará, a história do mito fundador da prática traz o nome de uma mulher, Joana Carneiro Maia (1908-1978), que a desenvolveu e repassou para outras pessoas no município de Majorlândia.
São vários nomes para uma mesma técnica que é aqui exaltada através do olhar de Paula Siebra, convidando o público a perceber com olhar de novidade aquilo que é rotineiro e que também está além do visível — como uma paisagem de pôr do sol na praia, jangadas ao mar, falésias ou uma simples duna no litoral.
––
Carolina Vieira é pesquisadora no campo da arte com mestrado em Teoria e Crítica de Arte (EBA - UFMG), especialização em Arte Contemporânea (PUC-Minas) e em Arte e Educação (Uni7). Coordenou o Programa de Formação Básica em Artes Visuais do Porto Iracema das Artes (2013-2021). Esteve como mediadora do grupo de estudo sobre a História das Exposições de Arte do Ceará, na Galeria Multiarte (2014-2020). Hoje, atua na Pinacoteca do Ceará.
O tempo presente nos pede isso: respiro, pausa, amorosidade. A pintura de Paula requer atenção e em troca é possível perceber o acolhimento e o cuidado que a contemplação de sua obra provoca. Os elementos contidos nos seus trabalhos muitas vezes trazem, a partir do cotidiano, uma sensação de pertencimento e de intimidade, que é "nada mais que sentir-se em casa", como disse a própria artista em uma troca de correspondências. Qual lembrança faz você se sentir em casa? Que lugar seria esse?
Com o olhar atento ao seu entorno, Siebra chegou às garrafinhas de areia. Estes objetos, enquanto artesania, tornaram-se algo habitual: talvez pela produção em massa e comercialização turística, a técnica da arenogravura, silicogravura ou ciclogravura tornou-se algo tão comum. Um trabalho que demanda paciência e imaginação não é um simples objeto trivial da cultura do litoral cearense — um souvenir, um chaveirinho, uma lembrança do Ceará.
Há algo nesse objeto que chama a atenção de Paula: a construção da paisagem, a relação com as cores de seus pintores preferidos, a composição enquanto possibilidade de imagem figurativa ou abstrata. A artista percebeu a riqueza da criação no trabalho de composição das imagens com areia colorida em garrafas de vidro — um trabalho delicado, sensível e precioso. Além disso, ao aprofundar sua pesquisa, ainda se deparou com o fato de que, no Ceará, a história do mito fundador da prática traz o nome de uma mulher, Joana Carneiro Maia (1908-1978), que a desenvolveu e repassou para outras pessoas no município de Majorlândia.
São vários nomes para uma mesma técnica que é aqui exaltada através do olhar de Paula Siebra, convidando o público a perceber com olhar de novidade aquilo que é rotineiro e que também está além do visível — como uma paisagem de pôr do sol na praia, jangadas ao mar, falésias ou uma simples duna no litoral.
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Carolina Vieira é pesquisadora no campo da arte com mestrado em Teoria e Crítica de Arte (EBA - UFMG), especialização em Arte Contemporânea (PUC-Minas) e em Arte e Educação (Uni7). Coordenou o Programa de Formação Básica em Artes Visuais do Porto Iracema das Artes (2013-2021). Esteve como mediadora do grupo de estudo sobre a História das Exposições de Arte do Ceará, na Galeria Multiarte (2014-2020). Hoje, atua na Pinacoteca do Ceará.