"Sobre a exposição Arrebol"

Mendes Wood DM NY, 2021
        A estreia de Paula Siebra na galeria Mendes Wood DM em Nova York é marcada por uma silenciosa e diligente ponderação sobre os eventos do cotidiano, que são frequentemente preteridos. Suas composições simples e estáticas consagram ou cristalizam os pequeninos momentos do ser; café com pão, o horizonte de uma mesa, um vaso com flores de papel recortado são retratados com um sentido de equilíbrio e importância tácita. Cada pintura, por sua vez, parece transmitir uma quietude para o observador, como se ela dissesse, “segure” e então, “deixe ir”.

        O título da exibição, Arrebol, denota o avermelhado do céu ao cair da tarde ou no raiar do dia. Cada cena retratada nessa exibição é recoberta por uma luz acastanhada e poeirenta. Seria ela a meia luz entre as horas do dia, ou seria a cor da memória? Não sabemos exatamente. De um ponto de vista técnico, a sutileza meticulosa dos contrastes que emergem desses tons quentes é construída a partir de várias camadas de imprimaturas multicoloridas. O efeito visual da superposição de tons neutros sobre um fundo mais escuro, conhecido como “contraste sucessivo”, permite o surgimento de uma delicada luz vibrante em suas telas.

        Em Arrebol, a presença da cultura nordestina é sentida de maneira profunda. A arte popular e as formas sintéticas dos objetos de argila, do crochê e das platibandas geométricas estão em toda parte. Através de suas obras, somos introduzidos a vilarejos oníricos, objetos domésticos e rostos íntimos, ainda que anônimos. As pinturas de Siebra entoam um hino mais universal, o hino dos momentos sucessivos que juntos reverberam para compor a música da vida cotidiana.